Entendo como propícia a época do inicio de ano para uma revisão de carreira, considerando que o que foi não é mais e nem voltará a ser como antes. O que vem e virá é imprevisível. O cenário do mundo corporativo reveste-se de novos paradigmas impulsionados pelo vertiginoso avanço da tecnologia em todos os setores. Nesse novo panorama, com a preponderância das dúvidas, cada vez mais, estaremos experimentando, no grande laboratório chamado trabalho, um mundo incerto, volátil, complexo e ambíguo (VUCA), errando aqui e ali e, de súbito, acertando também aqui e ali.
Então não dá mais para pensarmos em uma carreira nos moldes tradicionais, em longo prazo, com as certezas estabelecidas por um planejamento detalhado em um cenário estável. Muitas das atividades, em especial, as mecânicas e repetitivas, deverão ser substituídas por robôs ou sistemas automatizados. Outras profissões e atividades passarão por processos de aperfeiçoamentos que parecerão novas.
É comum, como um rito de passagem, muitas pessoas fazerem uma reflexão, aproveitando a época de parada no final do ano, as festividades natalinas, para pensar sobre o que fizeram para obter êxito e os resultados não tão bons, apesar do esforço empreendido. Decidimos, a partir desta análise de consciência, repetir os feitos geradores de sucesso e, ao mesmo tempo, nos programarmos para evitar ou modificar comportamentos e decisões que culminaram em fracassos e decepções.
Participando de uma entrevista da Revista Forbes, sobre o assunto, comentei sobre alguns pontos relevantes para uma boa estratégia de revisão de carreira, a saber:
– Sugiro que ela seja feita anualmente.
– Cada vez mais, ao fazer essas revisões, o ideal é que o trabalho a ser realizado esteja alinhado com o seu propósito de vida, aquilo que te dá prazer em fazer. A melhor maneira de ser bem-sucedido é fazer aquilo que gosta ou então aprender a gostar daquilo que faz. Imagine fazendo algo ao longo da vida que te deixa infeliz?
– Buscar continuamente aperfeiçoar-se. Mais do que nunca o conceito do “lifelong learning” torna-se uma realidade. Em outras palavras, se parar de estudar ou de se especializar, em pouco tempo ficará obsoleto.
– Estudar e aprender não basta se não praticar. Outra metodologia muito utilizada é a do 70/20/10, ou seja, o que aprendemos em uma sala de aula ou em um treinamento consiste em apenas 10% do processo de mudanças. 20% são oriundas do convívio com especialistas e troca de informações com profissionais do mesmo segmento e os 70% do processo de mudanças vêm com a prática e com o tempo.
– É fundamental que tenha um legítimo desejo de crescer, de se desenvolver, preservando a sua qualidade de vida, zelando pelo equilíbrio com outros aspectos da vida, como a sua saúde, sua família, sua vida social, sua vida financeira e a sua vida espiritual.
– Ter sempre a consciência do seu protagonismo, de fazer o que decide fazer, conscientizando-se do seu papel e da sua importância, vivendo com autoestima e em conexão com os seus valores fundamentais, dos quais nunca deve abrir mão.
– Cuidado com o comodismo. Não dá mais para conceber um profissional fechado a mudanças em um mundo de transformações. Não cabe mais a “Gabriela” ou os “Gabrielões”, fazendo uma alusão à letra da música sobre Gabriela que diz:
– “Eu nasci assim, eu cresci assim e eu vou ser sempre assim”.
– Aprender e desaprender torna-se um hábito. O risco é ficarmos presos a conceitos ou preconceitos, compreendendo que não só as mudanças são e estarão cada vez mais presentes, mas paradigmas são e serão, cada vez mais, questionados. Isto acontecerá, também, com os modelos de trabalho, empreendimentos e empreendedores, que ganharão uma nova dimensão de trabalho a partir de novas e revolucionárias visões, a exemplo: Uber, Airbnb, Waze, Spotify. Avanços acontecem na biotecnologia, robótica, impressão 3D, Internet das coisas, inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, entre outras.
– A questão para sobreviver e crescer impõem novas tendências e comportamentos. Observo que a comunicação em todos os setores, em especial entre as pessoas, quer seja em exposições, reuniões, vendas ou negociações. Isso ajudar a saber lidar com os estímulos geradores de mudanças de comportamentos mais profundos, tais como a serotonina, dopamina e outras, que serão cada vez mais estudadas pela neurociência.
– Há um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) apontando as 10 habilidades de um profissional de hoje e de amanhã, interessantes para quem está nessa fase de remodelação ou transformação de seu trabalho, a saber:
- Flexibilidade Cognitiva;
- Negociação;
- Inteligência Emocional;
- Julgamento e tomada de decisão;
- Resolução de problemas complexos;
- Coordenação com os outros;
- Gestão de Pessoas;
- Criatividade;
- Pensamento crítico;
- Orientação para servir.
Outra abordagem, facilitadora para uma revisão de carreira, é analisar as tendências apresentadas pelos futuristas. Aproveitando, penso que ser futurista pode ser uma profissão, mesmo porque não há riscos. Ao acertar, dirá um sonoro e tonitruante ‘Eu não falei?’, mas, se errar, dirá que surgiram variáveis não previstas na hora da “profecia”.
Algumas dessas previsões apresentadas pela Singularity University são:
- 2020 – Internet 5Gh entrega velocidade de conexão de 10 a 100 gigabytes para dispositivos móveis ao redor do mundo;
- 2022 – Impressoras 3D conseguem imprimir roupas e materiais para montagem de casas e prédios;
- 2024 – O número de voos de drones diários chega a 10.000.000;
- 2026 – A posse de carros sai de moda e os veículos autônomos dominam nossas estradas;
- 2028 – Energia solar e eólica representarão quase 100% do consumo mundial;
- 2030 – A máquina pode alcançar e superar a inteligência humana em todas as áreas;
- 2032 – Robôs serão comuns em todos os locais de trabalho;
- 2034 – Muitos problemas como o câncer e a pobreza são solucionados.
Cada vez mais, o mercado exige pessoas comprometidas, focadas, alinhadas com as tendências. Por isso, desejo que a sua revisão de carreira possa encantar com a qualidade da sua entrega e os seus valores semelhantes aos dos seus clientes ou contratantes, recebendo, assim, o que merece pelos seus méritos, fazendo exatamente aquilo que gosta.