Havia uma brincadeira na minha infância que era muito divertida. Chamava-se “Siga o Líder” e consistia em que todos os colegas deveriam ficar em uma fila ou em uma roda e alternavam-se o papel de quem assumia a liderança. O líder, por sua vez, fazia movimentos, caretas, pulava, girava o corpo, levantava uma das mãos, imitava algum animal, produzia sons, agachava ou dançava e todos os outros deveriam imitar o que o “líder” estava fazendo.
Curiosamente, em nossa vida, sem esse propósito da diversão, conscientemente ou não, passamos a imitar algumas pessoas que se tornaram nossos modelos em algum segmento da vida. Pode ser a imitação do nosso pai ou nossa mãe, algum artista ou professor, um herói de desenho animado ou alguém que admirávamos. Assim, ao longo do tempo, copiando comportamentos e atitudes, trejeitos ou maneiras de falar, utilizando frases feitas, adotando certos valores, gostando de um time de futebol ou usando roupas semelhantes, passamos a nos reconhecer como pessoas, como alunos, como filhos, descobrindo as novidades dos nossos papéis existenciais e criando, na sequência, o nosso próprio estilo, nosso próprio jeito de ser, utilizando a nossa inteligência, nossa criatividade, desviando dos caminhos dos modelos que nos serviam de base para aprender a nos comportar e responder aos estímulos diversos do dia a dia, do nosso jeito.
Lembro-me de uma pequena história, em que havia um mestre e os seus discípulos e um desses discípulos adorava o mestre, aprendia rapidamente tudo o que ele ensinava e se preparava para ser um tipo de monge ou religioso. E assim foi ao longo dos anos. O mestre ensinava algo e logo o discípulo fazia exatamente o que havia aprendido e repetia os ensinamentos do mestre.
O tempo foi passando e o discípulo já não comparecia, suas vindas tornaram-se raras, até sumiu. Pior ainda, quando um outro discípulo o viu pregando, ensinando a um outro grupo e para a sua surpresa, ensinava coisas diferentes das que havia aprendido com seu mestre. Assim, decepcionado, foi logo falar com o mestre para dizer da ingratidão do seu colega, como podia ele, que era tão dedicado, ensinar coisas diferentes? O mestre, por sua vez, ouviu silenciosamente e, após esse relato, ficou com uma expressão serena e um olhar amoroso e disse com ternura: – Com esse discípulo eu terminei o meu trabalho, ele está pronto.
Lembro-me do meu antigo mestre no campo da oratória, o Professor Oswaldo Melantonio, a quem, com gratidão, presto uma singela homenagem ao citá-lo e reverenciá-lo, pois foi o meu grande ídolo, inspirando-me, servindo-me de guia e apoiando-me nos meus primeiros passos como professor no campo da oratória. Via em mim um grande potencial e tinha um cuidado especial em me orientar, exigir mais e mais para que eu fizesse os exercícios que ele dava, corrigindo-me, estimulando para eu me aperfeiçoar mais e mais, demonstrando sua crença de que eu seria um grande professor e, a exemplo dele, ajudaria muitas pessoas no desenvolvimento dessa habilidade, facilitando-lhes o crescimento profissional e a felicidade pessoal por meio do aprimoramento da habilidade de comunicação verbal.
Lembro-me uma vez que o convidei para assistir a uma palestra que eu faria sobre comunicação e, para minha alegria (e apreensão, confesso), ele aceitou o convite e assistiu a palestra. No final, prestei a ele uma homenagem, agradeci a sua presença e ele falou, com a humildade que lhe era característica, que ficava feliz, pois viu naquele momento o aluno que superara o mestre.
Claro que não entendi a felicidade que ele sentia naquele momento, a exemplo do mestre e o seu discípulo, que deve ter dito a mesma coisa com palavras diferentes: – Com esse aí, terminei o meu trabalho.
É comum um artista, um cantor, por exemplo, imitar alguém no seu início de carreira ou um consultor fazer igual ao seu mentor, uma filha imitar a mãe ou um filho agir exatamente como o pai, imitarmos e aprendermos com quem nos ensina algo novo. Aprendemos, aprendemos e depois passamos a fazer as mesmas coisas de um modo diferente, modificando aqui ou ali, dando o nosso cunho pessoal, evidenciando, nesse sentido, a nossa identidade e a nossa personalidade.
Proponho que reflita e identifique quais foram as pessoas que te inspiraram a fazer o que você faz, que te estimularam a ser essa pessoa fantástica e extraordinária que se tornou e se foram coisas boas que aprendeu e te ajudaram a ter sucesso e a se desenvolver, agradeça ou se já partiu desse mundo, faça uma oração, com humildade e reconhecimento, pois se você chegou aonde chegou, foi essa, ou foram essas pessoas que te serviram de modelo que te alavancaram ou te inspiraram para a sua realização pessoal ou profissional.
Por fim, lembre-se da sua responsabilidade, atuando como exemplo, como modelo, como ídolo para outras pessoas que se miram em você para buscarem sua evolução. Sugiro que dê a elas uma atenção especial, apoiando-as, estimulando-as e sinta-se feliz com essa oportunidade de plantar sementes, mesmo que não haja um reconhecimento explícito, e a sua recompensa será a sua consciência por ter feito esse bem para alguém.
Reinaldo Passadori