Quando você elogia alguém, você é sincero?
É bom, faz bem, alimenta o ego, levanta o espírito quebrantado, eleva a alma, faz bem, aumenta a autoestima, gera o sentimento de pertencimento, estimula o outro a ter um comportamento melhor, aumenta a produtividade das pessoas, fortalece e cria novas amizades, estimula a performance pessoal.
Além disso, aproxima as pessoas, gera alegria, apoia no peso e dor das dificuldades e agruras da vida.
Elogiar faz bem para quem o recebe e não empobrece quem o dá. É um alento para quem está triste ou infeliz, desanimado, abatido ou consternado.
Há, no entanto, dois lados do elogio. Um é o lado sincero, respeitoso, verdadeiro, real, quando um elogio é um reconhecimento por algo, por uma característica existente, por um esforço que alguém empreendeu, por mérito pelo esforço ou pela competência, por ter se esforçado além da conta, talvez aceitável para fazer alguém se sentir melhor, enaltecendo algum ponto positivo, ajudando-a a sair de uma situação complicada.
O outro lado, é a utilização do elogio como artifício de dominar, notadamente quando direcionado para pessoas carentes de afeto, solitárias, ávidas de atenção e qualquer pequeno gesto de interesse, mesmo que sob a égide da falsidade e da manipulação psicológica, definida como o exercício de influência indevida, por meio de distorção mental e exploração emocional, com a intenção de obter alguma vantagem. Nesse sentido, a pessoa elogiada, imaginando que está agradando, está apenas sendo ingênua e se submete a esse poder de domínio, distorcendo fatos, usando palavras doces e amáveis, minimizando riscos, agindo em função de seus próprios interesses e benefícios.
Conheço, aliás, todos conhecemos aquelas pessoas que elogiam demais e delas devemos desconfiar, pois conseguem o que desejam por meio desse falso artifício. Pior ainda quando a pessoa alvo é infantil demais e sua inocência não permite que perceba a malicia e falsidade no pseudoelogio.
Há algumas formas relativamente simples para lidar com a má influência das pessoas manipuladoras ou passivo-agressivas, pois parecem do bem, tem até uma gentileza na fala, sorriso presente, oferecem brindes a torto e a direito, mas o que importa é o resultado da sua manipulação.
Algumas dessas formas, a saber:
- Reconheça e saiba quais são seus direitos e valores inalienáveis;
- Saiba identificar, observe se a pessoa que te elogia conhece o suficiente para reconhecer algum feito que mereça esse reconhecimento. Verifique se essa pessoa sistematicamente utiliza esse procedimento no convívio com outras pessoas e você, com seu bom senso, percebe então as mentiras e falsidade nessas relações;
- Não leve essa pessoa tão a sério. Seja política, elogie também, mas não se deixe levar emocionalmente pelo falso elogio;
- Saiba dizer não, se necessário, faça cursos, aprenda, treine. Dizer não, significa exatamente o que a palavra significa: “Não!”;
- Não se apresse, nem tome decisões precipitadas, nem entre em situações complicadas, nem se deixe seduzir pelo encanto das palavras doces e envolventes;
- Observe se suas palavras condizem com suas ações, se é congruente, se diz uma coisa e faz outra;
- Afaste-se dessas pessoas, não irão, ao longo do tempo lhe fazer bem. Pode ser que, em função de uma carência ou uma surpresa, tenha ficado encantado com um inesperado reconhecimento, mas saiba agir com ponderação e prudência, pois isso não faz mal a ninguém.
Há uma outra vertente do elogio, que não depende de ninguém, apenas de você mesmo. É o autoelogio, que representa o reconhecimento de quem você é, pensa e sente, dos seus valores, do seu esforço em se superar a cada dia, das escolhas positivas que fez e faz na vida, pela clareza dos valores que adotou para a sua vida, servindo as outras pessoas, sendo uma pessoa generosa e boa, humilde e agradável, fazendo o melhor que pode, entendendo que também tem suas imperfeições e seus deslizes, mas sempre com a busca do autoaprimoramento pessoal.
Há uma história que ilustra esse autorreconhecimento e tomada de consciência de tantas benesses que temos e nem sempre valorizamos. É a seguinte:
“Alguém muito desanimado entrou em uma igreja e, levantando os olhos para o alto, disse a Deus:
– Senhor, entrei aqui porque em igrejas não há espelhos. Nunca me senti satisfeito com a minha aparência.
Subitamente, uma folha de papel caiu a seus pés, vinda do alto do templo: atônito, ele leu a seguinte mensagem:
Minha criatura, nenhuma das minhas obras veio nem ficou sem beleza, pois a feiura é invenção dos homens, não minha.
Não importa se um corpo é gordo ou magro, ele é o templo do espírito, e este é eterno. Não importa se os braços são longos ou curtos, sua função é o desempenho do trabalho honesto. E não importa se as mãos são delicadas ou grosseiras, sua função é dar e receber o bem.
Não importa a aparência dos pés, sua função é tomar o rumo do amor e da humildade. Não importa o tipo de cabelo, se ele existe ou não na sua cabeça; o que importa são os pensamentos que passam dentro dela.
E não importa a forma nem a cor dos olhos, o que importa é que eles vejam o valor da vida. Não importa a forma do nariz, o que importa é inspirar e expirar a fé. Não importa se a boca é graciosa ou tem atrativos. O que importa são as palavras que saem dela”.
Dentre tantas reflexões e aprendizados que envolvem esse assunto, conheci um líder que, em função da sua vida difícil, nunca ter recebido um elogio de seus pais, apenas críticas, aprendeu que deveria sempre criticar as outras pessoas, jamais elogiá-las. O máximo que dizia, diante de um trabalho caprichado era:
“Não fez mais do que a obrigação.”
Foi em um treinamento e conhecendo um pouco sobre ele, seus feitos e também esse trauma de infância que se propagou até a vida adulta, fiz alguns elogios e, confesso, foram sinceros e percebi que ficava incomodado com eles e, surgindo a oportunidade, conversei com ele a respeito desse assunto, foi quando ele me contou sua história plena de dificuldades e o que ele mais recebia do seu pai e da sua mãe eram chineladas, palmadas e cintadas, pois era a forma que, curiosamente, seus pais encontravam para expressar o seu amor.
Propus que ele trabalhasse isso, fizemos um exercício juntos e que ele soubesse compreender e perdoar o jeito de ser de seus pais, que obviamente não sabiam o que estavam fazendo para o seu filho. Propus também que, ao reconhecer algo que merecesse ser elogiado, que experimentasse, que fizesse um esforço para agradecer e falar sobre sua percepção do que a outra pessoa tinha feito, ou algo relacionado à sua filha ou à sua esposa.
Confesso, ele disse, depois de um tempo, que foi difícil fazer o primeiro elogio, mas mesmo assim fez, deixou a outra pessoa feliz. Hoje é outra pessoa, mais querida, e reconhecida. Não que tenha se transformado em um elogiador profissional, nem em um manipulador, mas percebeu que ao elogiar algo real e fazer um elogio sincero não só ele, mas as outras pessoas ficavam felizes e gratificadas.
Em um processo de educação sadio, normalmente os pais elogiam seus filhos pelos acertos e reconhecem quando se esforçaram e todo cuidado, ao longo do tempo, é pouco, porque astutamente as crianças percebem as mentiras e também passam a adotar esse mesmo comportamento deformado pelo aprendizado doméstico.
A seguir relaciono alguns elogios e gostaria que simplesmente leia-os e procure identificar os que podem ser sinceros e aqueles utilizados para manipulação, ao mesmo tempo que lhe proponho pensar a respeito disso: Seus elogios, quando acontecem, são sinceros?
Algumas frases de elogios, a saber:
- “Quando você chega, a tristeza vai embora”;
- Você me tira o fôlego;
- De um a dez, você é onze!
- Você é a beleza em forma de gente;
- Você sempre vê o lado bom das coisas;
- Eu sempre aprendo coisas boas com você;
- Você é a razão da minha felicidade;
- Sua voz me enfeitiça;
- Você deixa a vida mais bonita;
- Sua generosidade é admirável;
- Estar a seu lado é a melhor parte do meu dia;
- Você é uma pessoa fina e elegante;
- Você é uma pessoa inspiradora.
Por fim, uma proposta: Elogie sinceramente alguém hoje, mas cuide que seja sincero.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre o Poder do Elogio? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Reinaldo Passadori