Ao desenvolver os treinamentos em comunicação verbal, passamos a focar a nossa atenção aos diversos detalhes relacionados ao comportamento dos alunos. É comum os participantes fazerem gravações e serem submetidos a feedback não só dos colegas de curso como também do professor.
São inúmeros os itens que podem ser comentados, mas para facilitar a análise subdivido em partes.
A primeira delas foca as características gerais, destacando: simpatia, segurança, entusiasmo, primeira impressão, maleabilidade, eloquência, vigor, improvisação, uso de muletas psicológicas, sinceridade, sensibilidade, estilo, espontaneidade, harmonia, assertividade, presença de cacoetes linguísticos, ambiguidade e cacofonia.
Em seguida, observamos e comentamos sobre a voz, com os seguintes detalhes: sonoridade, intensidade, dicção, timbre, respiração, prosódia, velocidade, ritmo, pontuação, suavidade, califasia, tonalidade, uso de pausas e nasalação.
Outro contexto importante para análise é a comunicação corporal, com os seguintes detalhes: gestos, uso das mãos, dos dedos, olhar, postura, expressão facial, elegância, estilo, fisionomia, movimentação do corpo, aparência, asseio corporal, combinação de cores e das roupas em geral.
Por fim, não menos importante, características técnicas e intelectuais, tais como erudição, arquitetura de ideias, originalidade, uso de linguagem poética, dialética, lógica, retórica, como iniciou, desenvolvimento das ideias e conclusão, argúcia, memória, gramática, vocabulário, uso de ilustrações, pronomes de tratamento, objetividade e simplicidade.
O curioso é que o participante não percebe seus próprios comportamentos, fazendo comentários genéricos sobre si, dizendo apenas que gostou ou não e normalmente sua própria avaliação é excessivamente crítica. Por isso, a atenção e o conhecimento técnico oferecem informações úteis para que o treinando possa se conhecer melhor e perceber suas fortalezas e fraquezas para, a partir daí, traçar um plano de ação para o seu desenvolvimento.
A atenção pressupõe o conhecimento técnico e concentração.
No nosso exemplo, o feedback sobre a performance de comunicação, mostra aos participantes dos nossos cursos, pontos positivos e oportunidades de desenvolvimento.
Considerando um plano mais amplo, o desenvolvimento da habilidade da atenção contribui para o sucesso na nossa vida pessoal e profissional, tanto quanto para o desenvolvimento da nossa inteligência emocional. Isso se dá porque vivemos em o mundo bombardeados por informações advindas da nossa percepção dos sentidos como todas as outras estimuladas pela internet, veículos de comunicação, das nossas emoções e dos nossos pensamentos. Ainda mais agora com o advento da inteligência artificial e seus recursos tecnológicos gerando uma revolução inesperada com novos cenários, incluindo a mídia digital e toda sorte de informações recebidas diuturnamente.
Por essa razão, precisamos mais do que nunca, treinar a nossa atenção para fazermos escolhas e tomarmos decisões conscientes. No cenário corporativo os líderes precisam ter atenção bem desenvolvida para aguçar a sua capacidade de observação de si mesmo, das pessoas à sua volta, do ambiente de trabalho, das circunstâncias que envolvem o seu trabalho, das metas a serem atingidas, do planejamento estabelecido e dos resultados esperados.
Muito estudada pela psicologia a atenção está entre as principais funções cognitivas, como a percepção, a memória, a linguagem e as ações.
A atenção é responsável, entre outras coisas, pela seleção dos estímulos e informações que consideramos de mais importância em um determinado momento. Isso porque as escolhas que fazemos delineiam a nossa vida e as nossas experiências. William James, psicólogo e filósofo norte-americano do século XIX disse: “Aquilo que prende atenção determina a ação”. Mais atual que nunca, seus conceitos têm sido retomados por estudiosos de psicologia e do comportamento humano.
As antigas escolas de sabedoria já consideravam a atenção algo fundamental para a conquista do saber. Diziam que é a base sobre a qual se constrói o edifício de seus conceitos e práticas, dentre as quais se destaca a meditação. Isso porque exercita a mente a permanecer no momento presente, fator fundamental para aumentar nossa percepção e concentração. Além disso, ajuda a evitar a ansiedade e o estresse.
Centenas de estudos amplamente divulgados por publicações científicas, comprovam a efetiva contribuição da meditação, que tem atenção como pré-requisito, para melhorar o desempenho cognitivo e emocional.
Uma das principais funções da atenção, conforme Carlos Godo, estudioso do Quarto Caminho é direcionar o nosso interesse para as áreas que nos são importantes. E impedir que haja um acúmulo de informações desnecessárias ou danosas. Portanto, nosso sistema de atenção, nesse nível, funciona como um mecanismo de autopreservação. Principalmente se considerarmos o volume de informações a que somos expostos diariamente.
Atenção bem desenvolvida nos ajuda a manter a auto-observação e a observação do outro no momento presente. Como se presenciássemos a cena como ator e diretor ao mesmo tempo. Ela também nos ajuda a eliminar ao máximo as interferências externas e internas que possam prejudicar ou causar ruído ao conteúdo das mensagens em andamento.
Carlos Godo destaca três maneiras básicas do uso da nossa atenção:
O primeiro uso é a ATENÇÃO FOCALIZADA.
Esta é a mais comum e a que estamos mais habituados. Ela representa interpretar algum fenômeno que nos atraiu o interesse ou sobre o qual necessitamos obter informações mais precisas. Por exemplo, quando procuramos uma determinada pessoa no meio de uma multidão.
O segundo é a ATENÇÃO DIFUSA.
Esta corresponde a um aumento voluntário e direcionado da atenção, para o entorno de uma informação que desejamos captar. Ela tira o nosso sistema nervoso do piloto automático e ativa outras formas de análise e decisão. Por exemplo: conceitos, ideias, atitudes e comportamentos, memórias e hábitos que nos capacitam a moldar e colorir o nosso modelo representacional da realidade.
E, por último, a atenção em blocos.
Esta gera a sensação de existência de alguma razão causa ou significado para uma experiência específica. E, em seguida, produz a percepção dos elementos que dão nexo ao contexto a fim de constatar a verdade daquela experiência, ou seja, sua realidade objetiva.
Para reforçar a compreensão de cada tipo de atenção, Godo utiliza como exemplo uma peça teatral: como meros espectadores podemos dizer que estamos no modo de atenção focalizada. Ao percebemos a trama, reagimos, modificando nossas perspectivas pessoais, estamos na atenção difusa. Estaremos no modo de atenção em blocos quando compreendermos o sentido e a intenção da peça.
Esse exemplo demonstra que os três modos de atenção se alternam entre si, embora haja a predominância da forma focalizada em detrimento das demais. Se eu não fosse assim, não seríamos capazes de apreciar um espetáculo e nem mesmo compreender a sua trama.
Esse estudo sobre a atenção nos mostra a importância que podemos e devemos dar aos inúmeros detalhes. Entender que podemos utilizar essa habilidade em três níveis diferentes que ampliam nossa acuidade sensorial perceptiva. Desta forma, podemos trazer para a nossa consciência fatos e detalhes relevantes em cada contexto.
Por fim, a atenção pode ser, conforme qualquer outra habilidade, treinada e praticada. Isso nos torna pessoas mais bem-preparadas para discernir aquilo que é daquilo que não é importante em cada situação.
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