Há um tempo, desenvolvemos aqui na Passadori um curso bastante procurado e bem-sucedido chamado Media Training, cujo objetivo é preparar um porta-voz na empresa para se comunicar com a mídia e a sociedade.
Como lidar com crises pessoais
As empresas precisam saber lidar e tratar diversas situações diariamente, sendo assim é primordial ter um profissional responsável para se posicionar publicamente, em casos de riscos de vazamentos, incêndios, explosões, contaminações no meio ambiente, produtos ou propagandas que ferem a ética ou denotam preconceitos, entre outras adversidades.
Esses porta-vozes, seja o próprio presidente, diretores ou representantes jurídicos, são preparados com as habilidades técnicas e depois, com as habilidades comportamentais, por meio de simulações de entrevistas para a prática das respostas mais apropriadas conforme o contexto.
O curso abastece o profissional de estratégias, minimizando os riscos relacionados à imagem e reputação com ações e providências cabíveis, assumindo responsabilidades para a mitigação das consequências de acidentes e incidentes quaisquer que tenham sido as razões.
Pensando nisso, nas preocupações que as empresas adotam em situações difíceis, por que não pensarmos em cuidar de nós mesmos ou das pessoas que amamos quando estão em situações de crises no âmbito pessoal?
Será que podemos adotar atitudes e comportamentos que evitam o agravamento de situações complicadas pelas quais passamos em nossa vida?
Primeiramente, vamos considerar uma crise pessoal, que pode ser uma situação no trabalho por rivalidade, competitividade, hostilidade, assédios, ameaças e outros conflitos. Além disso, crises pessoais geradas pela somatização, que é a sucessão de acontecimentos enfrentados de diversas maneiras ou por um evento específico, traumático e negativamente marcante.
Participei, com muita honra como professor do curso Socorrista Mental, com Renato Lisboa e Marcos Wunderlich, promovido pelo Instituto Holos. Esse curso é uma preparação para identificar, dar apoio, mentoria e orientação básica às pessoas que estejam em sofrimento mental devido às dificuldades e pressões do dia a dia nas organizações, no meio social ou na própria família.
Para essas situações, algumas técnicas são muito úteis para enaltecer o propósito e preservar a própria vida, são elas:
STOP – um processo para refletir antes de agir impulsivamente sob a influência das emoções.
A primeira etapa é o S – Stop, que significa parar a atividade que está fazendo e focar no momento presente, com consciência.
Na sequência, a letra T, que significa “Take a step back”, ou “dê um passo para trás”, física ou mentalmente em relação à situação, para que possamos vê-la com mais clareza. Como bem disse, José Saramago: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. Isso também tende a ocorrer conosco e com as nossas emoções.
Em seguida, a letra O, de Observe as emoções, pensamentos e sensações sem julgamento.
E por fim, a letra P, de “Proceed”, que significa prossiga, em “mindfullness” – sugere que a pessoa pense sobre suas metas e se pergunte quais ações podem melhorar ou piorar essa situação.
Outra estratégia é a chamada TIP, uma técnica utilizada para acalmar, com rapidez, a fisiologia corporal e tem como meta reduzir a ansiedade ou superar o estresse, podendo ser muito útil para resgatar a pessoa de uma situação complicada e irreversível.
Começa com o T – Temperatura, ou seja, mude a temperatura do rosto com água fria.
I – Intenso exercício físico, mesmo que por pouco tempo.
P – Profunda respiração abdominal e relaxamento muscular progressivo.
Desse modo, se consegue relaxar o corpo. E relaxando o corpo, relaxa a mente.
Outra técnica, também conhecida, selecionada por Lara Patrícia Wunderlich, baseada no livro Treinamento de habilidades em DBT, de Marsha M. Lenehan, é a chamada – “IMPROVE”, que aborda os seguintes passos, na sequência de cada letra, que por sua vez contém um significado:
I – Imagens, utilizando-as como imagens mentais para distrair, acalmar, reforçar alguma característica ou recurso, como confiança, coragem, determinação, foco etc.
M – do inglês “Meaning” que sugere encontrar ou criar uma mensagem significativa para o momento em que estiver passando.
P – “Prayer” ou oração. A sugestão é que você se conecte com sua dor, com o seu sofrimento e faça, da maneira que souber fazer alguma prece. Peça, abra seu coração, use esse recurso, poderá te surpreender.
R – Relaxamento – Procure ações ou atividades que te relaxem. Use sua imaginação para isso.
O – “One thing in the moment”, ou seja, uma coisa de cada vez, lembrando-se de que o momento presente é o único que temos e ao adotar a ação ou pensamento, concentre-se somente neles (no momento e na ação).
V – “Vacation” – ou férias, encontrando estratégias para sair das preocupações e encontrar um momento para recuperar suas forças e suas energias.
E – Encorajamento – para você se motivar e repensar as mesmas ações e situações, porém sob uma perspectiva positiva.
Há outros exercícios que ajudam como: meditação, oração, mantras, práticas esportivas, mas quando precisamos de algo emergencial, precisamos aprender a lidar, taticamente, com essas situações adversas.
Existe uma outra técnica que tenho adotado ultimamente, aliás, muito eficiente, chamada “Wu- Wei”, que consiste em “não fazer” nada. Derivada das crenças do taoismo, uma religião que promove a conexão humana e animal ao universo. Partem do pressuposto que os problemas não surgem do nada, e sim, são criados por nossas ações e por nossa mente. Ainda há uma justificativa plausível sobre essa técnica, afirmando que quanto mais permitimos que o mundo siga seu fluxo natural, melhor para todos, pois a natureza possui uma intrínseca sabedoria.
Dica
Essas técnicas, apesar de serem revestidas de grande simplicidade, podem salvar uma vida. Saber como lidar com as crises ou dominá-las ajudam a si mesmo ou possibilitam que você consiga apoiar alguém a passar por algum desses desafios da vida moderna.