É atribuída a John Wolfgang Goethe a seguinte frase: “A música seria a mais bela das artes, se não fosse a oratória”. Goethe é considerado, até hoje, a maior personalidade literária alemã, seu maior poeta, grande dramaturgo, ensaísta e romancista. Sem querer concordar, nem contestar, sua afirmação merece ser levada em consideração.
A oratória, tida como a arte de falar em público, não é matéria nova, seu nascimento e primeiros registros datam do Século V Antes de Cristo, data oficial da criação do primeiro manual de retórica, em Saracusa, Cecília, que hoje faz parte da Itália, mas, na época, era parte da Grécia.
Se de um lado há a oratória, de outro, há o orador, que se resume em todo aquele que fala em público, quer seja proferindo palestras, apresentando dissertações, discursos preparados ou falas de improviso. Ao longo do tempo, na história relegada apenas aos filósofos, sacerdotes nos templos, reis, arautos, líderes religiosos em geral e professores, a oratória se tornou um dos principais recursos de um líder e profissional moderno, quer seja em situações de grandes públicos, como igrejas, templos, congressos e lideranças políticas, como, também, em emissoras de TV que, atualmente, estão mais impulsionadas pelas mídias digitais e influenciadores. Além disso, o recurso é utilizado, também, durante situações corriqueiras do dia a dia, como reuniões, vendas, negociações, aulas e debates.
Ser ou se tornar palestrante é uma das profissões, embora não regulamentadas, mais promissoras e rentáveis, sob a minha ótica, tendo em vista que é destinada a pessoas especiais, com recursos e talentos diferenciados e com uma mensagem, também, importantíssima para melhorar o mundo. Isso não quer dizer que também não possa piorar, pois uma pessoa preparada para ser um orador, geralmente, conta com um poder de influência que, infelizmente, pode ser utilizado para o lado negativo, dependendo da direção da sua intenção.
Há muitos indivíduos com potencial latente, podendo fazer bom uso desse conhecimento para contribuir com o desenvolvimento, motivação ou inspiração de pessoas, adotando atitudes e comportamentos melhores para uma vida mais feliz ou produtiva. Gosto de fazer uma analogia de um orador com uma ponte. O orador, sendo uma ponte da ignorância para o saber; o professor, a ponte para o conhecimento; o líder religioso, a ponte para a vida espiritual; o político, a ponte para tornar melhor a vida das pessoas e da comunidade que o elegeu; o repórter, a ponte para a informação; o advogado e o juiz, a ponte para a justiça; o palhaço, a ponte para a alegria; o ator, ponte para as emoções; o apresentador de TV e radialistas, ponte para o entretenimento.
Quero destacar os palestrantes que se esforçam para proporcionar aos seus ouvintes e plateias uma perspectiva de uma vida melhor, levando as pessoas a outro nível de percepção, autoconhecimento e consciência, para que possam fazer escolhas mais equilibradas e adotem novos e melhores padrões de conhecimentos, conseguindo, como consequência, uma vida plena de realizações e mais feliz.
Conheço palestrantes que trabalham com o despertar do bom humor; outros, com o objetivo de gerarem a paciência diante de perdas de filhos, pessoas queridas e vítimas de catástrofes; outros para apoiar pessoas desesperadas e desamparadas; outros para mostrar caminhos e novas possibilidades de compreensão, desenvolvendo a capacidade de perdoar, de mudar seus caminhos tortuosos para uma vida de valores, integridade e de respeito para com seus semelhantes; outros para ajudarem as pessoas a suportarem as agruras, dificuldades e desafios da vida, quer seja na vida social ou financeira, relacionando o trabalho e a vida profissional, junto ao desenvolvimento intelectual e orientações para cuidar da aparência; outras zelando pela natureza e, assim, diante de uma infinidade de propósitos, gerando mudanças de atitudes e de comportamentos de suas plateias.
Quão gratificante e impressionante é ouvir uma pessoa preparada, talentosa e com carisma. Sua fala parece poesia, suas palavras ecoam em nossas mentes, fazendo vibrar o nosso coração pela insustentável leveza do toque magistral de ativar a nossa sensibilidade, nos fazendo pensar, refletir, abrir novos caminhos, dar novos significados aos nossos próprios conceitos, gerando o estímulo para tomarmos decisões e fazermos novas e melhores escolhas para uma vida plena de possibilidades, renovação de esperanças, aumento da nossa fé, da adoção de um código de valores e de honra que poderão ser a força motriz para verdadeiros milagres.
Para finalizar, levando em conta e prestando uma singela homenagem aos palestrantes, incluindo-se aqui coaches, consultores e professores, que descobriram nessa carreira a sua realização e seu propósito de vida, transformando pessoas, deixo uma das mais belas mensagens sobre a palavra, texto de José de Alencar, que, sob minha ótica, devia estar com uma inspiração divina para nos deixar este nobre legado.
A PALAVRA
“A palavra, esse dom celeste que Deus deu ao Homem e recusou a todos os outros animais, é a mais sublime expressão da natureza; ela revela o poder do Criador e reflete toda a grandeza da sua obra divina. Incorpórea, como o espírito que a anima, rápida como a eletricidade, brilhante como a luz, colorida como o prisma solar, comunica-se ao nosso pensamento, apodera-se dele instantaneamente e o esclarece com os raios da inteligência que leva no seu seio.
Mensageira invisível da ideia, íris celeste do nosso espírito, ela agita as suas asas douradas, murmura ao nosso ouvido docemente, brinca ligeira e travessa na imaginação, embala-nos em sonhos fagueiros, ou nas suaves recordações do passado.
Reveste todas as formas, reproduz todas as variações e nuances do pensamento, percorre todas as notas dessa gama sublime do coração humano, desde o sorriso até a lágrima, desde o suspiro até o soluço, desde o gemido até o grito rouco e agonizante.
A justiça deu-a à inocência como a sua arma de defesa; arma poderosa e irresistível que tantas vezes tem suspendido o cutelo do algoz e quebrado as pesadas cadeias de ferro de uma masmorra.
Para o tribuno é uma alavanca gigantesca, com que desloca as imensas molas do povo e atira-as de encontro às colunas do edifício social, que estremece, vacila e se abate ao peso dessas massas impelidas por um poder quase sobre-humano.
Eis o que é a palavra, meu amigo; simples e delicada flor de sentimento, nota palpitante do coração, ela pode elevar-se até o fastígio da grandeza humana e impor leis ao mundo do alto desse trono, que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência.
Assim, pois, todo homem, orador, escritor ou poeta, todo homem que usa da palavra, não como um meio de comunicação das suas ideias, mas como instrumento de trabalho; todo aquele que fala ou escreve, não por uma necessidade da vida, mas sim para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz da linguagem, não um prazer, mas uma bela e nobre profissão, deve estudar e conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento de sua atividade.
A palavra tem uma arte e uma ciência; como ciência, ela exprime o pensamento com toda a sua fidelidade e singeleza; como arte, reveste a ideia de todos os relevos, de todas as graças e de todas as formas necessárias para fascinar o espírito.” (José de Alencar)
Reinaldo Passadori