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A comunicação além da fala

(*) Por Reinaldo Passadori

Sem nos darmos conta, além do que falamos, estamos sempre transmitindo informações por meio do nosso corpo, comportamentos e atitudes. Esta transmissão acontece, também, a partir da maneira como lidamos com um problema, expressamos os nossos interesses e emoções. Uma informação só é transmitida quando pode ser decodificada por outra pessoa. Do mesmo modo que ao observarmos alguém, percebemos características como o seu jeito, seu estilo, como se veste, a sua faixa-etária, entre outros. Julgamos, avaliamos, rotulamos e definimos a nossa impressão. Querendo ou não, as outras pessoas também fazem isso conosco. A partir dessas percepções, criamos a nossa reputação e a nossa imagem.

Às vezes faço isso como se fosse uma gostosa brincadeira de observar pessoas. Onde trabalho, na Avenida Paulista, é um bom local para isso, dado a variedade de pessoas de todas as origens, com sua diversidade, seus trejeitos, a maneira como se vestem e se apresentam, cada qual explicitando, invariavelmente, uma série de detalhes perceptíveis e decodificados.

O simples fato de alguém ficar silente, mesmo estando com outras pessoas, está transmitindo algo, ou porque está desinteressado ou porque não tem nada para falar. Um gesto de acolhimento, um abraço, um sorriso amistoso, um olhar mais profundo pode ser mais poderoso do que milhares de palavras.

Nas ações do dia-a-dia é que ficam mais evidentes esses detalhes relacionados ao estilo. A maneira como cada um cuida de si mesmo e das relações com as outras pessoas, tanto no aspecto positivo negativo, no convívio social e profissional, diz muito sobre o seu perfil.

Selecionei alguns exemplos para propor a você algumas situações sobre isso. Admiro as pessoas que sabem presentear, que tem facilidade de escolher o presente certo, na medida certa e, infalivelmente, irão agradar a pessoa presenteada. Pode ser até um presente comum, mas tem a “cara” da pessoa, o presente certo que pode ser desde um livro, um bom vinho, um adorno, uma carteira, uma caixa de bombons, uma peça de roupa até uma flor. Além do presente em si, a forma como é embalado, desde o papel, uma fita, o laço da fita até a cor e a maneira como é entregue. No Japão há uma forma tradicional de embalagem chamada “furoshiki”, que é um tipo de lenço que serve para embalar o presente e existem diversas formas de amarração e cada um deles com o seu respectivo significado. Isso mostra cuidado, asseio, aparência, elegância e afeto para com a pessoa presenteada.

Como você já percebeu, esse tipo de comunicação não verbal é sutil, mostrando muito sobre você e sua personalidade.

Outro exemplo: Recebendo um casal de amigos e seu filho em um final de semana, meu amigo disse que o churrasco seria por conta dele. “Tudo bem, claro, fique à vontade”, eu disse, imaginando que simplesmente faria de maneira normal. Foi como se estivesse em um ritual, trouxe a sua faca especial e um afiador para essa faca, com corte perfeito, depois de acendido o fogo da churrasqueira, preparou as carnes, com temperos com ervas e sal grosso, cortes certos, conforme a direção da fibra da carne, distribuindo-a na grelha, com cada fatia equidistante uma da outra, separando a parte da linguiça, do pão de alho, da picanha e do lombo de porco, devidamente temperado.

Eu estava observando todo esse cuidado e o prazer que ele tinha ao servir a carne de acordo com o “gosto do freguês”, se mal ou bem passada ou ao ponto. Não preciso dizer que foi um dos melhores churrascos que saboreei, não apenas pelo que foi servido, mas, principalmente, pelo prazer que ele demonstrou em servir e propiciar esse momento especial de alegria e de satisfação pelo seu capricho. Assemelhou-se ao churrasco preparado pelo pessoal da Cloud Coaching em sua confraternização anual. Se tiver nesse final de ano, sugiro que não perca.

Perceba com mais atenção essas inúmeras formas de nos comunicarmos além das palavras e dos gestos. Nossas ações, nossos comportamentos, nossa reação diante de um conflito, mostram muito sobre nós mesmos.

Outro exemplo é a maneira como algumas empresas, em preparar o seu pessoal para atender seus clientes e envolvem desde a alta cúpula da organização em reuniões de todos os níveis. As relações dos vendedores, prestadores de serviços, lojistas, garçons, porteiros, recepcionistas, enfim todos os que se relacionam com seus clientes internos e externos.

Um fato que me chamou a atenção foi na última edição do Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento (CBTD), promovido pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD). Não menosprezando, obviamente, as edições anteriores, mas, dessa vez, o atendimento, desde recepcionistas, acompanhantes de palestrantes e todos os demais serviços foi especial. Havia 150 dessas pessoas, entre jovens e, também, pessoas de certa idade, os chamados “amarelinhos” por causa das camisetas amarelas que usavam.

Soube que foram preparadas como o pessoal da Disney prepara seus atendentes, mas fez toda uma diferença. Quando cheguei, perguntei a uma dessas “amarelinhas” o local da sala de imprensa, pois colaborei com a divulgação do CBTD e participei dessa forma. A atendente fez questão de me acompanhar, com disposição, com um sorriso nos lábios, perguntando se eu precisava de mais alguma coisa. Sorri também e disse que não. Elogiei o atendimento e fiquei feliz com esse simples fato. Dentre tantos outros detalhes do congresso, desde os palestrantes, a organização, a limpeza, a consistência do conteúdo, esse foi, sem dúvidas, um ponto de destaque e que mereceu esse comentário.

Deixei para o final, tendo em vista que nada disso acontece por acaso, nem por combustão espontânea, ou seja, podemos nos preparar para atender e tratar as pessoas com gentileza, com educação e respeito, aproveitando ainda o ensejo do final do ano, uma abordagem sobre o “advento”.

Para os cristãos, o advento é considerado o tempo de espera, no qual há toda uma preparação para a celebração do Natal, e começa no quarto domingo antes dessa festa. Inicia-se com a preocupação das pessoas (dos cristãos, em especial dos católicos), em arrumar e enfeitar as suas casas, afinal a grande celebração é o nascimento de Jesus Cristo.

Mais importante do que a preparação das suas casas, é a preparação interior, na limpeza dos seus corações e das suas almas, livrando-se dos maus sentimentos, como o ódio, a raiva, a inveja, os ressentimentos e o egoísmo, afastando as atitudes negativas, como os pré-julgamentos, críticas, maledicências, avareza e cinismo. A proposta dessa preparação inclui prestar mais atenção às pessoas à nossa volta, observando as suas necessidades e inundar-se com as energias positivas do acolhimento e do equilíbrio, a generosidade para celebrar, de verdade, o Natal.

Diante de tantas mudanças no mundo, das transformações impulsionadas pela tecnologia, existe um movimento para a humanização, um clamor para que todos nós, seres humanos, vivamos em paz e em harmonia. Estes apelos de consciência se relacionam com a sustentabilidade, respeito à natureza e às pessoas, firmeza de caráter, honestidade e a integridade.

Nessa renovação proposta, que não seja apenas para o final de ano, para celebrar o natal, mas para uma celebração da própria vida, contribuindo com o mundo para ficar um pouco melhor. Consequentemente, a nossa imagem pessoal será beneficiada, não como um objetivo, mas como uma consequência desse preparo e, mais do que falamos, o que conta é o que fazemos e praticamos. Deve haver congruência entre o nosso belo discurso e o que mostramos com nossas ações, pois de nada adiante alguém falar sobre o amor, sobre bondade, carinho e afeto, mas na prática ser pessoa insensível, estúpida e mau-caráter.

Mais do que falamos, o que fazemos evidencia quem somos, o que pensamos e o que sentimos. Nesse espírito, que a sua imagem reflita a beleza, a força e a sabedoria do seu espírito e traga a você, como um reflexo, uma vida plena de alegrias, prosperidade e felicidades.

Reinaldo Passadori

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